Neste ano houve uma renovação de quase 50% na Câmara dos Deputados, uma Casa grande e com funcionamento complexo. Por mais que um político já tenha exercido outros mandatos em seu Estado, atuar no Congresso Nacional é um desafio.
Nesta sequência de artigos, vamos dar algumas dicas de como montar equipe; quais as principais funções em um gabinete; como a Casa funciona; funções que o deputado pode exercer; e como começar a organizar o mandato.
Como montar a equipe?
Cada deputado tem o direito de contratar até 25 secretários parlamentares, até o limite de R$ 106,8 mil em salários. O salário mais baixo é de 980,98 e o mais alto é de 15.022,32, mais vale alimentação. Veja aqui a tabela de salários.
Antes de qualquer coisa, lembre-se que nepotismo (empregar parentes) é crime. Além de disso, também não é bem visto o emprego de familiares nas estruturas partidárias ou de governo as quais o parlamentar é ligado. Atenção também para os casos de nepotismo cruzado. Os portais da transparência facilitam muito a identificação disso e esse é um assunto muito explorado pela mídia.
O reconhecimento de um bom mandato, que pode levar a reeleição ou a eleição para outro cargo futuro almejado, depende do desempenho de um parlamentar, que, se mal assessorado, por não conseguir atingir os objetivos desejados.
Recepção/secretária(o)
Contrate um bom profissional que tenha facilidade no atendimento ao público, cordialidade e empatia. Ele será a primeira impressão do seu gabinete.
É função desse profissional cadastrar os visitantes, formando assim o um banco de dados que irá ajudar a divulgação no decorrer do mandato e também nas eleições.
O próprio Google oferece um sistema para esse tipo de cadastramento, mas existem vários outros softwares de gerenciamento de mandato, com ferramentas mais específicas e que podem potencializar os seus resultados de atuação.
Em tempos de redes sociais, além dos dados como nome, endereço, cargo e data de aniversário, cadastrar os endereços das redes dos visitantes ajuda a estabelecer uma relação mais frequente com os mesmos.
Que tipos de visitantes um gabinete costuma receber? Desde pedintes até altas autoridades. Por ser a Casa do Povo, o legislativo é lugar onde muitas pessoas recorrem para pedir ajuda. As situações são muitas. Cito alguns exemplos:
Realizar exames médicos; Pagar INSS atrasado; Pagar passagem para voltar para a cidade de origem; Tirar multa de trânsito; Liberar carro apreendido; Ajudar a ser chamado em concurso no qual foi aprovado; Conseguir outro cargo em instituição na qual é servidor; Emprego; Comida; Cirurgias…
A maior parte dos visitantes, no entanto, são autoridades do Estado do parlamentar, como prefeitos, vereadores, secretários, gestores, provedores de Santas Casas, presidentes de instituições beneficentes, etc. O bom relacionamento do mandato com essas pessoas, costuma resultar em parcerias eleitorais promissoras.
O objetivo da visita dessas autoridades, em sua maioria, é para pedir emendas parlamentares, ajuda sobre programas de governo ou para resolver imbróglios burocráticos junto ao Executivo Federal.
No roll de visitantes existem ainda os profissionais de relações institucionais, que são os representantes de empresas, entidades, associações, etc. Em muitos casos, os próprios presidentes os CEOs dessas empresas visitam os parlamentares. O objetivo, normalmente está associado a projetos no qual o parlamentar possa influenciar favorável ou negativamente, dependendo do caso.
Aos cuidados do profissional de recepção/secretária(o) costuma ficar também a responsabilidade pelo atendimento telefônico, recepção e encaminhamento de correspondências e a agenda.
Um gabinete com serviço de excelência costuma contar com um profissional de recepção em Brasília e outro nos escritórios políticos do Estado. Por isso, é importante que o sistema de cadastramento seja integrado e que a comunicação entre esses profissionais seja frequente.
Uma maneira eficiente de fazer a agenda é aquela em que os compromissos no Estado são agendados e cuidados pela equipe do Estado e os compromissos nacionais ou internacionais tratados pela equipe de Brasília. Sempre um gabinete comunicando ao outro e, principalmente, incluindo cada compromisso na agenda geral, para que não haja conflitos.
Como viagens e missões nacionais e internacionais são tratadas exclusivamente em Brasília, é aconselhável que seja o gabinete de Brasília a resolver esses assuntos.
O recepcionista/secretária(o) pode ser também a pessoa que cuida das passagens do parlamentar. Esse é um trabalho rigoroso, que demanda muito controle, uma vez que há uma cota de limite de gastos na qual as passagens estão incluídas. Apesar de os bons gabinetes buscarem sempre antecipar a compra das passagens, conseguindo assim preços melhores, a dinâmica de trabalhos na Casa ou imprevistos fazem com que o parlamentar precise mudar voos em cima da hora. Por isso é importante ter um profissional familiarizado com o sistema de compras de passagens.
Em alguns gabinetes, o recepcionista/secretária(o) também pode ser o responsável pela parte financeira, que possui um sistema específico e complexo. Por conta da transparência, todos os gastos do gabinete devem ser lançados nesse sistema, para que qualquer cidadão tenha acesso. Além de pagar as contas, elas precisam ser lançadas e acompanhadas com frequência, para que o parlamentar não exceda o valor da cota, que varia de acordo com cada estado. A Câmara costuma oferecer cursos para o uso desse sistema.
Leia aqui: O que faz um assessor legislativo
Leia aqui: O que faz um assessor de comunicação
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